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sexta-feira, 1 de março de 2013

Exemplos, por Merval Pereira


O Globo
“Eu acho que o Fernando Henrique Cardoso deveria, no mínimo, ficar quieto. O que ele deveria fazer é contribuir para a Dilma continuar a governar o Brasil bem, ou seja, deixar ela trabalhar.” Nessa curta frase do ex-presidente Lula está expressa sua ideia de democracia e, sobretudo, a visão que tem sobre o que é fazer oposição. Desde que Lula chegou à Presidência da República, criou-se um mito no Brasil: falar mal do ex-operário que chegou ao poder pelo voto é proibido, revela o preconceito social de quem o faz.
Fazer oposição ao governo popular que chegou para nos redimir só pode ser coisa de direitistas raivosos, de reacionários a serviço dos piores interesses. Ao contrário, basta que alguém adira ao governo petista para se transformar imediatamente em pessoa respeitável, sobre quem nada pode ser dito sem que uma crítica signifique tentativa de desestabilizar o tal governo popular.
Reputações são lavadas em segundos, passados são esquecidos, muitos se tornam esquerdistas tardiamente. Quantos parentes de presos políticos que nunca levantaram um dedo para repudiar a ditadura agora posam de esquerdistas em defesa da memória de seus queridos e aproveitam para tirar um benefício do governo?


Por que Fernando Henrique deveria “no mínimo ficar quieto”, se, tanto quanto ele, os ex-presidentes que nos restam atuam politicamente com intensidade? E por que Fernando Henrique deveria deixar Dilma trabalhar em paz se ele é o principal nome da oposição e, como o nome diz, tem como função principal se opor ao que está aí no governo?
O que fazia o PT quando estava na oposição? Deixava Fernando Henrique governar com tranquilidade ou tentava por todos os meios boicotar sua administração? Logo no início do governo Lula, quando ele assumiu surpreendentemente como tarefa de seu governo prosseguir a reforma da Previdência, conversei com o então presidente da Câmara, deputado João Paulo Cunha — hoje condenado pela participação no mensalão — e perguntei a ele por que o PT se batera tanto contra a reforma quando o PSDB estava no governo se agora se mostrava favorável a ela.

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